Meditação na pastelaria [Italian translation]
Meditação na pastelaria [Italian translation]
. . . . Por favor, Madame, tire as patas,
. . . . Por favor, as patas do seu cão
. . . . De cima da mesa, que a gerência
. . . . Agradece.
Nunca se sabe quando começa a insolência!
Que tempo este, meu Deus, uma senhora
Está sempre em perigo e o perigo
Em cada rua, em cada olhar,
Em cada sorriso ou gesto
De boa-educação!
A inspecção irónica das pernas,
Eis o que os homens sabem oferecer-nos,
Inspecção demorada e ascendente,
Acompanhada de assobios
E de sorrisos que se abrem e se fecham
Procurando uma fresta, uma fraqueza
Qualquer da nossa parte...
Mas uma senhora é uma senhora.
Só vê a malícia quem a tem.
Uma senhora passa
E ladrar é o seu dever – se tanto for preciso!
. . . . . . . . *
O pó de arroz:
Horrível!
O bâton:
Igual!
O amor de Raul é já uma saudade,
Foi sempre uma saudade...
(O escritório
Toma-lhe o tempo todo?
Desconfio que não...)
Filhos tivemos um:
Desapareceu...
E já nem sei chorar!
. . . . . . . . *
Chorar...
Como eu queria poder chorar!
Chorar encostada a uma saudade
Bem maior do que eu,
Que não fosse esta tristeza
Absurda de cada dia:
Unha
Quebrada de melancolia...
Perdi tudo, quase tudo...
Hoje,
Resta-me a devoção
E este pequeno inteligente cão.
. . . . Por favor, Madame, tire as patas,
. . . . Por favor, as patas do seu cão
. . . . De cima da mesa, que a gerência
. . . . Agradece.
- Artist:Alexandre O'Neill
- Album:No Reino da Dinamarca (1958)